Quando um ente querido morre, os adultos procuram evitar que as crianças participem, escutem ou vejam o seu sofrimento na vã esperança de proteger os pequenos. Porém, assim como os adultos, as crianças também precisam vivenciar o luto.
Apesar da dolorosa e difícil tarefa, a criança deve ser informada o quanto antes que seu ente querido faleceu, procure um ambiente apropriado e comunique de forma simples e clara: “o vovô, morreu”. Isso assegura a criança de que ela não está sozinha e que há outras pessoas para prover proteção e cuidado. Não tente esconder ou mascarar o seu sofrimento, você pode dizer: “estou muito triste porque o vovô morreu”, “Estou bravo porque o papai não vai mais estar aqui”. Não há problema em você e a criança experimentarem o luto juntos. Muito pelo contrário, isso a ensina a lidar naturalmente com os sentimentos e é um recurso que perdurará por toda a vida.
A criança pode ter muitas dúvidas, que variam de acordo com a idade, formação intelectual, contexto familiar, escolar e experiências anteriores com a morte. Na idade de 3 a 4 anos o falecimento não é definitivo, ideia por muitas vezes reforçada pelos desenhos em que o personagem “morre” e “renasce”, característica do pensamento mágico desta idade. Então, a pergunta “quando o vovô vai voltar” é comum. Entre os 5 e 9 anos começam a perceber a morte como definitiva e tudo que está vivo morre, mas tendem a acreditar que apenas pessoas velhas e vítimas de acidentes morrem, pessoas próximas e que a rodeiam não vem a óbito. Após os 10 anos entendem que é algo natural, que as pessoas morrem por diversas razões e idades diferentes.
É importante responder às dúvidas da forma mais simples e honesta possível, não usando metáforas como “está dormindo para sempre” – as crianças podem ter medo de dormir. Ou então “Deus o levou” – a criança pode ficar ressentida com um Deus que leva para o céu alguém amado e necessário. Estas metáforas podem alimentar o medo de morrer e causar mais ansiedade e confusão. É comum as crianças acreditarem que de alguma forma causaram a morte. Podem pensar que o mau comportamento causou a morte da mamãe ou que a raiva da irmã a levou a óbito, por isso é importante frisar que a criança não tem culpa pelo que aconteceu.
A criança pode reagir a perda inicialmente negando que a morte aconteceu. Pode tornar-se agressiva e culpar os demais pela morte ou ter raiva do falecido por tê-lo “abandonando”. Por vezes, expressam sua dor de modo sútil, ainda que para os adultos aparentemente não estejam sofrendo. O sofrimento da criança pode manifestar-se de forma sútil como regredir e chupar os dedos, molhar a cama e agir como bebê, ter dificuldade para dormir, ficar irritadiço. Pode desejar ou temer morrer. Assim como os adultos elas precisam precisa enlutar-se para aceitar a perda que ocorreu e seguir com a sua vida.
As crianças tomam os adultos como exemplo, por isso não devemos ter medo em expressar nosso próprio luto. Chore e deixe que a criança chore com você, não diga a ela para “ser forte”, está é uma situação triste e a tristeza deve ser expressada. Mostre que é permitido expressar as memórias do ente querido que faleceu, mesmo que ela seja muito pequena para falar de morte. Se mantenha física e emocionalmente perto dela, o carinho irá confortar o pequeno que sente a angústia na família mesmo que ainda não entenda o que aconteceu. As crianças precisam ser reasseguradas de que são amadas.
E principalmente, deve-se permitir que a criança participe dos rituais fúnebres, mas ela não deve ser forçada. Explique todo o processo do velório e funeral, antecipe o que ela deve ouvir ou ver: algumas pessoas chorando, condolências, flores, urna, corpo e a razão desses rituais. Participar pode ajudá-la a compreender a morte e começar melhor o processo de luto.
É importante lembrar que a relação da criança com o falecido não acabou, apenas mudou. Mantenha algumas fotos e lembranças do falecido para conversar sobre elas com a criança. Desta maneira um novo vínculo poderá ser formado entre a criança e a pessoa que morreu. Não hesite em procurar ajuda de um profissional para facilitar a aceitação da morte e aconselhar a família no processo de luto.
E lembre-se, a morte deixa uma mágoa difícil de curar, mas o amor deixa doces memórias que ninguém pode roubar.